Mondlane festeja partido no aeroporto de Maputo com polícia a disparar no exterior

Ex-candidato presidencial foi recebido por dezenas de apoiantes no regresso a Moçambique. Polícia terá disparado tiros e utilizado gás lacrimogénio contra apoiantes no exterior do aeroporto.
Por: Redação
O político Venâncio Mondlane afirmou hoje, no aeroporto de Maputo, que o tempo em que os moçambicanos eram esquecidos está a “passar para o passado”, festejando com apoiantes a formalização do partido, enquanto a polícia disparava no exterior.
“Que fique bem claro, nós estamos pela paz”, afirmou Venâncio Mondlane, em declarações aos jornalistas à saída do aeroporto, após uma viagem ao exterior, recebido em festa por dezenas de apoiantes enquanto empunhava a bandeira do seu partido, Anamola, autorizado na semana passado pelo Governo moçambicano, o qual diz estar aberto a uma “frente comum” da oposição, traçando já como meta as eleições autárquicas, dentro de três anos.
“Em 2028, com Anamola, os municípios todos, vamos limpar”, disse o político, que em 2023 foi candidato da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) à autarquia de Maputo, cuja vitória do candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), nunca reconheceu.
Enquanto se dirigia aos jornalistas, cerca das 15:45 locais (14:45 em Lisboa) ouviam-se no exterior do aeroporto – cujo acesso está condicionado pela polícia – disparos pela Unidade de Intervenção Rápida, numa aparente tentativa de travar o acesso de mais pessoas, apoiantes do ex-candidato presidencial nas eleições gerais de 09 de outubro, à infraestrutura, também fazendo uso de gás lacrimogéneo.
Na saída da comitiva de Venâncio Mondlane, já fora do aeroporto, a polícia voltou a fazer vários disparos, como foi possível constatar no local.
O Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos de Moçambique aceitou em 15 de agosto o pedido de registo do partido de Venâncio Mondlane, que deu entrada em abril, disse à Lusa o seu mandatário judicial, Mutola Escova.
Moçambique viveu desde as eleições gerais de 09 de outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder.
Segundo organizações não-governamentais que acompanham o processo eleitoral, morreram cerca de 400 pessoas em confrontos com a polícia, conflitos que cessaram após dois encontros entre Mondlane e Chapo, com vista à pacificação do país.
O ex-candidato presidencial anunciou em 07 de agosto que alterou a designação do seu partido, passando de Anamalala para Anamola, após pedido do Governo moçambicano, que considerou que a anterior sigla carregava “um significado linguístico”.
Anamalala significa “vai acabar” ou “acabou”, expressão usada por Venâncio Mondlane durante a campanha para as eleições gerais de 09 de outubro de 2024 – cujos resultados não reconhece – e que se popularizou durante os protestos por si convocados nos meses seguintes.
A informação da alteração para Anamola, significando igualmente Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo, constava do recurso que o antigo candidato presidencial submeteu no mesmo dia ao Conselho Constitucional (CC), por considerar então que o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religioso não respondeu no prazo legal ao pedido para a constituição da formação partidária.
Num ofício do ministério, assinado pelo ministro Mateus Saíze, com data de 28 de maio e que a Lusa noticiou nessa altura, era referido que o termo “Anamalala”, proposta de acrónimo de Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo, é proveniente da língua macua, falada em Nampula, norte do país, “e por isso já carrega um significado linguístico para a comunicação dos que nela se expressam”