Mondlane novamente ouvido na PGR moçambicana: “Consciência tranquila”

O político moçambicano Venâncio Mondlane é ouvido hoje, pela terceira vez, na Procuradoria-Geral da República (PGR), em Maputo, no âmbito dos processos das manifestações pós-eleitorais, garantindo estar de “consciência tranquila” e que o “momento não é para fugir”.
“Vou estar lá presente, de consciência tranquila. Eu quero provar também a eles que nunca houve, da minha parte, perigo de fuga. Já tive várias ocasiões para estar fora do país e não voltar. E mesmo contrariando a vontade do povo, eu digo que neste momento não é momento para fugir. O momento em que eu estive no exílio [durante as manifestações pós-eleitorais] foi um momento adequado, concreto, em que eu estive para estar fora do país”, disse Venâncio Mondlane, nas declarações à Lusa, segunda-feira, depois de algumas semanas na Europa, em contactos em Portugal e na Alemanha.
Mondlane vai ser ouvido a partir das 10:00 locais (menos uma hora em Lisboa) na sede da PGR, em Maputo, para “tomar conhecimento das respostas” aos requerimentos, devendo fazer-se acompanhar de um advogado, conforme adiantou.
Será a terceira vez que é ouvido na PGR no âmbito de, segundo dados anteriores do próprio, mais de 30 processos envolvendo as manifestações de contestação aos resultados eleitorais, afirmando esperar “alguma coisa um pouco sinistra”.
“Tudo o que me acontecer, eu estou pronto. ‘I’m ready'”, disse, acrescentando: “Se eu entrar e sair [da PGR], glória a Deus. Se eu entrar e não sair, também, glória a Deus”.
Nas mesmas declarações, Venâncio Mondlane admitiu esperar novamente um caos na sua ida à PGR, com a polícia a disparar contra os seus apoiantes, cenário idêntico ao vivido na segunda-feira, quando chegou a Maputo.
“Vamos ver, mas eu creio que as pessoas vão correr lá em massa, mas, como eu disse no aeroporto, eu não estou preocupado com a minha vida particular, porque eu já estou psicologicamente e espiritualmente preparado para isso”, sublinhou.
Moçambique viveu desde as eleições de outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder.
Segundo organizações não-governamentais que acompanham o processo eleitoral, cerca de 400 pessoas perderam a vida em resultado de confrontos com a polícia, conflitos que cessaram após encontros entre Mondlane e Chapo em 23 de março e em 20 de maio, com vista à pacificação do país.