O RETROCESSO É O MPLA: ANGOLA PRECISA DE LIBERTAR O FUTURO, NÃO DE TEMER A ALTERNÂNCIA DEMOCRÁTICA

No passado domingo, o jurista e comentador da TPA, Eugénio Clemente, afirmou que uma eventual viragem de regime em Angola, com a UNITA no poder em 2027, representaria um retrocesso de 25 anos. Acrescentou ainda que o país mergulharia em anos de apalpadelas, sem rumo, porque — segundo a sua visão — a UNITA não teria quadros nem capacidade para governar.


Por: Kamalata Numa

Essas declarações, profundamente políticas e intelectualmente desonestas são consequência da entropia cuja função representa a tendência natural de desorganização (fraude, corrupção, medo), são mais uma tentativa de naturalizar o domínio do MPLA e de sacralizar o fracasso como se fosse virtude nacional.

O Sr. Eugénio Clemente confunde longevidade com competência, e continuidade com progresso. O MPLA governa Angola há 50 anos — meio século de oportunidades desperdiçadas, de destruição do capital humano, de corrupção institucionalizada e do empobrecimento generalizado.

Pergunto-lhe, Sr. Clemente:

Há hoje uma única estrada nacional de 600 kms em condições no País 50 anos depois da independência?

Quantas crianças em Angola continuam fora do sistema de ensino?

Qual é a percentagem real de desempregados e subempregados na República de Angola?

Quantas famílias se alimentam a partir de contentores de lixo em Luanda e nas capitais provinciais?

O salário mínimo nacional dos angolanos está alinhado com o custo de vida e a inflação?

Estes são factos, não retórica. E mostram que quem mergulhou Angola num retrocesso de 50 anos foi o regime que o Sr. Eugénio Clemente defende.

O problema de Angola é que a academia e o sistema de formação foram politicamente capturados. Produziram-se “quadros” que pensam com a lógica do Partido-Estado, não com a ética da República.

Quando o Sr. Clemente diz que a UNITA não tem quadros, na verdade confessa que o MPLA sequestrou as oportunidades, colonizou as universidades, os concursos públicos, os meios de comunicação, e excluiu sistematicamente qualquer mérito fora do seu círculo de fidelidade partidária.

O resultado é um país onde a competência não é critério, onde a lealdade ao regime substitui o saber, e onde o diploma vale menos que o cartão de militância.

O argumento de que “a alternância de regime traria instabilidade” é a velha táctica do medo político usada por todas as autocracias quando se sentem vulneráveis.

Dizem: “Se a oposição chegar ao poder, o país afunda.” Na verdade, é o regime que já está afundado, e tem medo de que a mudança revele a extensão da sua falência.

O Sr. Clemente cita “exemplos africanos” de mudanças que não resultaram. Pois bem, também há exemplos africanos — como Cabo Verde, Gana, Botswana e Senegal — onde a alternância trouxe estabilidade, crescimento e respeito internacional.

O que esses países têm em comum? Democracias reais, instituições abertas e elites que respeitam a soberania do povo. Exactamente o contrário do que o MPLA representa.

A UNITA é a única força política em Angola que nasceu de dentro do povo, sobreviveu a todas as formas de guerra, traição e bloqueio internacional, e continua viva e coerente 60 anos depois.

A UNITA nunca falhou nos projectos em que se envolveu:

O colonialismo foi derrotado.

A República Popular de Angola desapareceu.

O social-imperialismo soviético-cubano foi expulso.

O multipartidarismo foi conquistado.

O que falta é apenas o último capítulo: a conquista democrática e institucional do poder.
E essa transição, Sr. Clemente, será feita com quadros formados dentro e fora do país, com competência, patriotismo e ética — não com dogmas nem fidelidades cegas.

Dizer que a alternância de regime é retroceder 25 anos é admitir, sem pudor, que o regime actual parou no tempo.
Um país que teme mudar, é um país que renuncia ao futuro. Um povo que aceita que a mediocridade é o preço da estabilidade, é um povo condenado a não progredir.

A verdadeira instabilidade não nasce da alternância: Nasce da incompetência, da injustiça, da corrupção e da falta de esperança.

Finalmente, Angola precisa libertar o futuro.

O Sr. Eugénio Clemente e o Sr. Bráulio Martins representam a elite que se acostumou ao conforto do fracasso.
Falam de “estabilidade macro-económica”, mas ignoram a pobreza estrutural. Falam de “imagem internacional”, mas esquecem que o nome de Angola, lá fora, é sinónimo de corrupção e desigualdade.

O futuro de Angola não está na continuidade dos mesmos rostos, mas na libertação das mentes,
na renovação das instituições, e na reconciliação do Estado com o seu povo.

Sr. Eugénio Clemente, em 2030, com Adalberto Costa Júnior como Presidente da República, nesta altura com o povo angolano a respirar a liberdade política e económica que lhe foi negada durante meio século, terei muito gosto em convidá-lo para revisitar as suas palavras.
E talvez então compreenda que o verdadeiro retrocesso foi o medo da alternância democrática.

OBRIGADO!

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