Visão de Xi Jinping para uma Ásia-Pacífico aberta e inclusiva

Em meio a choques comerciais crescentes e a incertezas geopolíticas intensificadas, o Presidente chinês Xi Jinping participará, nos próximos dias, da reunião de líderes das economias da APEC na Coreia do Sul, com o objetivo de construir consensos para a prosperidade comum e reafirmar o compromisso da China com uma globalização econômica aberta e inclusiva.


O Fundo Monetário Internacional projeta que o crescimento econômico na Ásia-Pacífico desacelerará de 4,5% este ano para 4,1% em 2026, uma previsão que reforça a urgência de manter vivo o espírito de cooperação e de fomentar novos motores de crescimento nestes tempos desafiadores.

Com os líderes reunidos novamente, espera-se que Xi reforce uma visão de longa data: a construção de uma economia aberta na Ásia-Pacífico. Para ele, essa região dinâmica continua sendo o motor do crescimento mundial, capaz de impulsionar a economia global para a frente.

PROMOVENDO O LIVRE COMÉRCIO

Em 2025, os membros da APEC responderão coletivamente por mais de 60% do PIB mundial total. Xi considera a região uma prioridade fundamental para o avanço do livre comércio. Impulsionada pela visão de Xi, a China fortaleceu seus laços econômicos com outras 20 economias-membro, entre as quais 15 já são parceiras de livre comércio da China.

A Malásia, membro da APEC, oferece um exemplo vívido. A China tem sido seu maior parceiro comercial por 16 anos consecutivos. “Os duriões malaios agora podem ser entregues diretamente dos pomares aos supermercados chineses dentro de 24 horas, e são imensamente populares entre os consumidores chineses”, escreveu Xi em um artigo assinado em abril, antes de sua visita de Estado ao país, um detalhe que capturou a crescente força do comércio bilateral.

Em junho de 2024, a China abriu ainda mais seu mercado aos duriões da Malásia. No mesmo ano, o comércio entre China e Malásia atingiu o recorde de 212 mil milhões de dólares, contrariando a tendência global de desaceleração.

Durante a visita, Xi disse ao primeiro-ministro malaio Anwar Ibrahim, que presidirá a ASEAN em 2025, que a China está pronta para trabalhar com os países da região para “usar a estabilidade e a certeza da Ásia para enfrentar a instabilidade e a incerteza globais”. Em resposta, Anwar afirmou que a ASEAN não aprova qualquer imposição unilateral de tarifas e manterá o crescimento econômico por meio da cooperação.

Na verdade, Xi tem se comprometido com tal abordagem. “A história nos diz que a abertura e a cooperação são uma grande força motriz por trás das atividades econômicas e comerciais internacionais dinâmicas”, disse Xi em 2018, quando lançou a primeira Exposição Internacional de Importação da China em Shanghai. Naquele ano, enquanto as forças gêmeas do unilateralismo e do protecionismo se fortaleciam, o líder chinês escolheu um caminho diferente, manter a porta da China amplamente aberta. Como ele declarou repetidamente: “A China não mudará sua determinação de expandir a abertura em alto nível.”

Seu compromisso com a abertura tem raízes profundas. Na década de 1980, quando a abertura da China estava apenas começando, Xi, então um jovem funcionário na cidade costeira de Xiamen, no sudeste da China, já estava pensando adiante. Ele viu o potencial da cidade para prosperar construindo um porto livre. Em 1987, Xi liderou uma equipe de pesquisa para Singapura, já um centro global de comércio e logística, para aprender como a cidade-estado administrava seu sistema de porto livre, anos antes da fundação da APEC.

Essa exploração inicial lançou as bases para que Xiamen se tornasse uma zona econômica especial com características de porto livre, prenunciando como a abertura se tornaria uma característica definidora da estratégia de Xi para conectar a China ao resto do mundo décadas depois.

Ao longo dos anos, essa visão de abertura permaneceu estável, evoluindo de experimentos locais nas zonas de reforma costeiras da China para uma estratégia mais ampla de engajamento internacional. Seja promovendo o livre comércio ou defendendo o multilateralismo, Xi tem consistentemente adotado a cooperação aberta como pedra angular do desenvolvimento da China e de seu papel no mundo.

Já em 2013, quando Xi fez sua estreia na reunião de líderes da APEC, ele apresentou uma visão clara: uma China comprometida em construir uma estrutura de cooperação regional que abrangesse ambos os lados do Oceano Pacífico e beneficiasse todas as partes envolvidas. Ao longo da última década, esse compromisso inicial tomou forma.

No ano seguinte, Xi sediou os líderes da APEC em Beijing, onde o fórum adotou o “Roteiro de Beijing”, lançando oficialmente o processo rumo à Área de Livre Comércio da Ásia-Pacífico (FTAAP).

Hoje, os caminhos para o FTAAP estão surgindo com clareza crescente. Sob a liderança de Xi, a China está implementando plenamente os compromissos da Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP) e promovendo ativamente o seu desenvolvimento de alta qualidade. Como a maior zona de livre comércio do mundo, o RCEP conecta 15 países da Ásia-Pacífico, 12 dos quais são membros da APEC, e fortalece a interdependência econômica da região.

A agenda de livre comércio de Xi ganhou novo impulso quando a China e a ASEAN assinaram recentemente, na terça-feira, a Versão 3.0 da Área de Livre Comércio China-ASEAN.

Lee Hee-sup, secretário-geral do Secretariado de Cooperação Trilateral (TCS), afirmou que, ao promover o multilateralismo e o livre comércio, a China está desempenhando um papel de liderança em vários mecanismos multilaterais na região Ásia-Pacífico, incluindo o RCEP, o TCS, o ASEAN+3 e a APEC. O TCS é uma organização internacional que promove a cooperação entre China, Coreia do Sul e Japão.

“Espera-se que a China continue a demonstrar liderança por meio desta rede orgânica de mecanismos, promovendo esforços em direção à cooperação regional e à integração econômica”, disse ele.

PROMOVENDO A CONECTIVIDADE

A primeira viagem de Xi à APEC coincidiu com outro marco importante. Em 2013, Xi realizou uma visita de Estado à Indonésia, anfitriã da reunião da APEC daquele ano, e propôs a Rota da Seda Marítima do Século XXI, um componente-chave da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI). Desde então, a iniciativa cresceu e tornou-se um poderoso motor de crescimento, conectando economias em toda a Ásia-Pacífico e remodelando as rotas comerciais na região.

Mais de uma década depois, a rede continua a se expandir. Em abril deste ano, durante uma visita de Estado ao Vietnã, Xi e o líder vietnamita To Lam iniciaram discussões sobre uma ferrovia que ligará os dois países. Ela irá integrar ainda mais a rede ferroviária da BRI na região, juntando-se a projetos emblemáticos como a ferrovia China-Laos, a ferrovia China-Tailândia, a ferrovia de alta velocidade Jacarta-Bandung e a East Coast Rail Link da Malásia.

A BRI se estende muito além da Ásia. Em novembro passado, Xi viajou ao Peru para inaugurar o porto de Chancay, uma porta marítima que liga a Ásia-Pacífico à América Latina. Ao reduzir o tempo de transporte do Peru para a China para apenas 23 dias e cortar os custos logísticos em pelo menos 20%, o porto está destinado a se tornar uma artéria vital no comércio global. Xi apresentou sua visão para Chancay: “explorar ativamente um modelo que impulsione a logística por meio de corredores de transporte, impulsione o comércio por meio da logística e estimule as indústrias por meio do comércio”.

À medida que as conexões físicas se aprofundam, Xi frequentemente enfatiza a necessidade de fortalecer outro tipo de conectividade, uma que seja menos visível, mas igualmente crítica: a estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais.

Em um mundo que enfrenta a crescente ameaça de descolamento e fragmentação das cadeias de suprimentos, Xi apontou: “Os países devem ver a interdependência econômica como uma oportunidade para complementar as forças uns dos outros e alcançar benefícios mútuos, e não como um risco.”

Na visão de Xi, na era da globalização econômica, o que é necessário não são fossos de divisão, mas pontes de comunicação; não cortinas de ferro de confronto, mas estradas de cooperação.

No final de março deste ano, Xi se reuniu com mais de 40 CEOs globais e líderes empresariais em Beijing para discutir o atual cenário empresarial global. Sua mensagem foi simples, mas ressoante: “Eu costumo dizer que apagar a luz de outra pessoa não fará a sua brilhar mais, e bloquear o caminho de outra pessoa acabará bloqueando o seu próprio caminho.”

Xi enfatizou repetidamente a importância das empresas estrangeiras para o avanço da abertura da China. No encontro, Xi prometeu “fornecer a maior facilitação possível para o comércio e o investimento na China”.

Sean Stein, presidente do Conselho Empresarial EUA-China, estava entre os presentes. Após ouvir as observações de Xi, ele disse: “Investir na China é investir no futuro.”

Para Xi, a conectividade não se refere apenas a aço e concreto, refere-se às pessoas. Ele acredita que os intercâmbios culturais e o entendimento mútuo lançam as bases para uma cooperação duradoura. A China implementou políticas de isenção de visto e expandiu iniciativas culturais para ampliar ainda mais o acesso do mundo à China. As medidas deram resultado, com o número de visitantes estrangeiros ao país crescendo ano após ano.

Esse espírito de conexão esteve plenamente em evidência durante a Reunião de Líderes da APEC de 2024, no Peru, quando a conversa de Xi com o Presidente chileno Gabriel Boric tomou um tom caloroso e pessoal.

Boric recordou um momento recente em seu país. “Antes desta visita ao Peru, fui convidado para uma feira internacional do livro em Santiago”, disse ele a Xi. “Todas as suas obras estavam expostas, ao lado de obras de poetas, escritores e artistas chineses.” Boric presenteou Xi com uma cópia em espanhol de Xi Jinping: A Governança da China, Volume IV, e pediu que ele a autografasse.

Naquele salão de palavras e tinta, os continentes pareciam se aproximar. “Isso me deixa extremamente feliz”, disse Boric. “O desenvolvimento futuro das relações entre nossos dois países se beneficiará de nossos muitos acordos de cooperação, e ainda mais do diálogo cultural e dos intercâmbios educacionais.”

CONSTRUINDO UMA COMUNIDADE COMPARTILHADA

A APEC nasceu em um momento crucial, quando uma onda de globalização econômica começava a ganhar força. Desde o início, o fórum carregou uma missão clara: promover a abertura e a integração econômica. Ao longo das décadas, esse compromisso deu origem ao que passou a ser conhecido como o “Milagre da Ásia-Pacífico”, um período de crescimento e transformação extraordinários que remodelou a economia global.

Para Xi, esse espírito pioneiro deve continuar. Ele frequentemente afirma que a cooperação na Ásia-Pacífico deve “ousar assumir a liderança”. À medida que a APEC completa 30 anos, diante dos líderes da organização, Xi voltou a uma única e ressonante questão: Como a região pode criar os próximos “trinta anos dourados” de desenvolvimento?

Sua resposta tem sido consistente: construir uma comunidade da Ásia-Pacífico com um futuro compartilhado. Em 2020, a APEC lançou a Visão Putrajaya 2040, um novo plano de longo prazo que aspira a uma “comunidade da Ásia-Pacífico aberta, dinâmica, resiliente e pacífica até 2040”.

O líder chinês reconhece que os países diferem em condições nacionais e expectativas. O que importa mais, acredita ele, é abordar essas diferenças por meio da consulta e trabalhar juntos para explorar soluções para desafios comuns.

Xi certa vez recorreu à sabedoria chinesa antiga para retratar a APEC como uma família de economias ligadas pelas vastas e fluentes águas do Oceano Pacífico. “O bem supremo é como a água; a água beneficia todas as coisas sem competir.”

“O vasto Oceano Pacífico é suficientemente grande”, disse Xi certa vez, sublinhando sua crença na coexistência e na cooperação.

Esse espírito é exemplificado não apenas nos esforços de Xi para promover a colaboração da China com os países da região, mas também em seus esforços para ajudá-los a superar desafios globais urgentes, especialmente as mudanças climáticas.

Em fevereiro deste ano, Xi convidou o Sultão de Brunei, Haji Hassanal Bolkiah Mu’izzaddin Waddaulah, para visitar a China e participar da cerimônia de abertura dos 9º Jogos Asiáticos de Inverno, na cidade gelada de Harbin, no nordeste da China.

Antes dos Jogos, os dois líderes se reuniram em Beijing para conversas que abrangeram tanto setores emergentes quanto tradicionais. Suas discussões envolveram novas indústrias, como a economia digital, inteligência artificial e novas energias, bem como áreas de cooperação de longa data, como agricultura e pesca. Brunei sediará o Centro da ASEAN para Mudanças Climáticas e colaborará estreitamente com a China na ação climática.

Para Xi, a parceria tem um peso simbólico. Ele observou que China e Brunei “estabeleceram um modelo de tratamento entre países grandes e pequenos de forma igualitária, buscando o benefício mútuo e a cooperação ganha-ganha”.

Olhando para o futuro, Xi prevê que a Ásia-Pacífico continuará sendo a “locomotiva” da globalização. Uma nova onda de mudança tecnológica e industrial está emergindo, impulsionando a transição global para uma economia digital, verde e inteligente. Tal mudança, argumenta Xi, está construindo um poderoso impulso para a próxima fase da globalização.

Ele frequentemente descreveu a economia mundial como estando presa em um cabo de guerra entre forças impulsionadoras e forças obstrutivas, mas ele acredita que as forças que impulsionam a integração prevalecerão. “Contanto que atuemos com o espírito de abertura e conectividade”, disse ele, “o vasto Pacífico se tornará uma grande via para mais prosperidade e crescimento.”

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