EUA: Harris “controlou o debate” e Trump mordeu o isco

A candidata presidencial democrata Kamala Harris superou as expectativas com uma postura calma, ataques eficazes e a capacidade de colocar Donald Trump à defesa no primeiro debate entre ambos, disse à Lusa a analista política Daniela Melo.


Por: Redação

“Ela atirou-lhe o isco e ele mordeu sempre”, afirmou a cientista política da Universidade de Boston. “Conseguiu desestabilizá-lo, mesmo com os microfones desligados, e foi forte tanto na forma como no conteúdo”, adiantou após o debate entre os dois candidatos presidenciais, na terça-feira (madrugada de quarta-feira em Lisboa), a menos de dois meses das eleições presidenciais marcadas para 05 de novembro.

As primeiras reações após o frente-a-frente desta noite, que opôs a candidata democrata ao republicano Donald Trump, foram em geral positivas em relação ao desempenho de Kamala Harris, que colocou o oponente à defesa desde o início.

“Todos sabemos que os primeiros 30 minutos são os mais importantes no debate, porque são os que têm maior audiência”, explicou Daniela Melo. “A primeira coisa que ela fez foi pôr Trump imediatamente à defesa. Conseguiu articular a sua mensagem desde a primeira resposta com ataques em que Donald Trump depois pegou para se defender”.

A politóloga considerou que Harris conseguiu controlar a direção do debate e foi consistente a lembrar o eleitorado dos piores momentos da administração de Trump, como a gestão da pandemia de covid-19 e o assalto ao Capitólio.

“Donald Trump esteve muito fraco na resposta ao seu papel no 06 de janeiro”, afirmou. “No aborto, conseguiu deixá-lo visivelmente tenso e ansioso na resposta e mostrar que ele próprio tem tido recuos”.

Com o decorrer do debate, que durou 90 minutos com dois intervalos, o ex-presidente mostrou-se mais irritado.

“Ele não conseguiu articular a sua mensagem. Passou a maior parte do tempo a defender-se”, frisou Daniela Melo. “Ele teve respostas em que praticamente gritava ao microfone. Estava realmente muito agitado e muito agressivo, zangado”.

Em resultado, Trump não falou das suas propostas para os próximos quatro anos, enquanto Harris deu exemplos de políticas económicas e sociais que quer implementar. O republicano defendeu os seus comícios e passou algum tempo a falar de uma teoria negada pelas autoridades de Springfield, Ohio, de que haja imigrantes a comer gatos.

“A maior prova de que Kamala Harris ganhou este debate é que amanhã vai estar toda a gente a falar de cães e gatos”, salientou Daniela Melo, referindo que a democrata precisava que o ciclo mediático se focasse em Trump e não nela.

Apesar de esta ser uma campanha anómala, que está empatada em estados cruciais, Melo referiu que os debates costumam ter consequências e é possível que isso aconteça agora.

“Já tivemos ciclos presidenciais em que houve subidas e descidas radicais de 5 a 7 pontos depois de um debate”, indicou.

Mais importante que a audiência de 50 milhões prevista para o debate ao vivo, disse, serão os resumos e ‘soundbites’ que irão circular nos próximos dias nas redes sociais.

“É assim que a maior parte da população americana vai digerir e criar impressões sobre quem ganhou este debate e quem vai à frente”, disse a analista. “É provável que tenha um impacto e se consiga ver nas sondagens daqui a uma semana ou duas”.

O apoio da célebre cantora Taylor Swift a Kamala Harris, anunciado logo após o debate, também poderá fazer mexer a corrida, considerou a professora.

O debate histórico de terça-feira foi o primeiro entre Donald Trump e Kamala Harris e começou com um raro aperto de mãos, iniciado pela vice-presidente, que se apresentou pelo nome, num lembrete de que esta é a primeira vez que os dois políticos se encontram pessoalmente. Foi também o primeiro aperto de mãos num debate presidencial desde 2016.

Sediado pela rede ABC News, o debate decorreu no National Constitution Center, em Filadélfia, e foi regido pelas mesmas regras que foram ditadas para o histórico debate de junho entre Trump e o atual Presidente e ex-candidato democrata, Joe Biden, que acabou por desistir da corrida após um fraco desempenho nesse confronto.

Os jornalistas da ABC News David Muir e Linsey Davis moderaram o debate – o único agendado até ao momento entre Donald Trump e Kamala Harris, pelo que poderá ser a primeira e única vez que os eleitores verão os dois políticos num frente-a-frente antes da eleição geral.

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