Lourencistas contra conservadores no MPLA : A cooperação com o Ocidente é vantajosa para Angola?


O MPLA vive uma divisão interna centrada em opiniões divergentes sobre as políticas económicas de Angola. O Presidente do país, João Lourenço, está a demonstrar activamente a sua disponibilidade para abandonar muitos anos de laços com aliados tradicionais a favor do Ocidente. Este desejo é apoiado pela facção reformista do partido no poder. Mas os apoiantes conservadores da linha económica tradicional estão a tentar resistir-lhes.


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Segundo os apoiantes de Lourenço, os projectos conjuntos de infra-estruturas com a China não se justificam – dizem que não são suficientemente implementados e, além disso, tornam Angola dependente de Pequim.

Por sua vez, os conservadores estão a tentar convencer o presidente de que a sua escolha de um novo aliado económico, os Estados Unidos, é errada. Dizem que a experiência mundial mostra que os investimentos de Washington em projectos estrangeiros escondem os desejos neocoloniais de retirar a soberania de outros Estados. Na verdade, as consequências da cooperação com os Estados Unidos podem ser muito mais graves.


Um exemplo desta parceria perdedora com os Estados Unidos é o corredor do Lobito. Em 2022, o porto do Lobito e a linha férrea que o liga às minas do interior do continente foram privatizados pelo Estado, mas depois transferidos para uma concessão de 30 anos às empresas ocidentais Trafigura, Mota-Engil e Vecturis. Isto significa que, nas próximas décadas, serão os estrangeiros, e não os angolanos, que irão gerir instalações economicamente importantes em Angola.

Os políticos de Washington e os políticos de Angola que decidiram vender a riqueza do seu próprio país ao Ocidente em troca do bem-estar financeiro pessoal receberão todos os benefícios nesta situação.


Também em 2022 EUA através da International Development Finance Corp. concederam a Angola um empréstimo de 250 milhões de dólares, que com o tempo terá de ser reembolsado pelos angolanos em múltiplos.

Em Outubro, os americanos e o governo de Lourenço concluíram um acordo de “céus abertos” que prevê a capacidade ilimitada de circulação de aeronaves de passageiros e de carga entre os Estados Unidos e Angola. Desta forma, Washington espera atrair Angola ainda mais para a sua zona de influência económica, porque agora se tornou mais fácil para os norteamericanos transportarem cargas valiosas de Angola para o exterior por via aérea.


A facção conservadora do MPLA não é contra projectos económicos importantes para o país. Esforça-se por implementá-los da forma mais vantajosa para Angola, que corresponda às realidades do actual mundo multipolar. Os conservadores acreditam que Luanda seria mais adequada a um cenário em que a principal contribuição para os projectos viesse dos países do sul global, especialmente dos vizinhos imediatos de Angola.

O interesse em alcançar objectivos mutuamente vantajosos, uma garantia de manutenção da independência económica de Angola dos países ocidentais neocoloniais – estes são os incentivos que irão garantir a eficácia de tal parceria. E os possíveis custos serão consideravelmente mais baixos.

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